O Projeto de Memória Michie Akama

Por: Eliana Rezende Bethancourt

Um Projeto de Memória dentro de qualquer instituição necessita ser pensado de forma a atender diferentes demandas.
Em primeiro lugar, devemos nos perguntar para quê e porque de um Projeto de Memória.
Isto porque um Projeto de Memória não pode se resumir à coleta de depoimentos e uma Linha do Tempo.
Pensado em sua forma mais abrangente um Projeto de Memória Institucional visa fixar, preservar e divulgar a História de uma instituição, ao mesmo tempo em que reúne, organiza e disponibiliza fontes e informações contidas nos documentos reunidos ou produzidos por ela.

Além disso, a Memória Institucional inscreve-se no território do fortalecimento de Identidade e da Cultura Organizacional através da valorização de seu Capital Intelectual (recursos intangíveis que habitam a capacidade de cada indivíduo que faz parte da instituição).

Quando uma organização reconhece a importância de tudo isso podemos dizer que é uma instituição madura e que possui apreço pelo que denominamos Responsabilidade Histórica, ou seja, um conjunto de valores e preocupações com o que se produz hoje e que deverá ser preservado para as gerações futuras. Pensar em um Projeto de Memória não significa apenas valorizar o passado, mas também significa a conscientização que temos uma responsabilidade com o que deixaremos de herança para o futuro.

Quando fui convidada a assessorar tecnicamente o Projeto Memória Michie Akama, considerei que seria uma excelente oportunidade de, através de uma experiência educacional do Colégio Pioneiro abordar de que forma a presença de um fundador desse um direção que mesmo transcorrido décadas manteve-se fiel aos seus principais objetivos..

Neste caso, é imediata a ligação com o tripé que sustenta uma organização: o que diz sobre si, o que faz e o que outros dizem e/ou acham dela. Este conjunto de ser e fazer auxilia na construção do que chamamos Imagem e Identidade. Se a imagem é aquilo que projetamos, a Identidade é a nossa essência, é aquilo que somos. Para uma organização é aquilo que a diferencia de todas as demais, que lhe dá credibilidade, respeito e a torna absolutamente única.

O Projeto de Memória Institucional neste sentido, auxilia neste caminho de apresentar a todos o que de fato a instituição é e faz. Por isso, cala tão fundo e fornece a possibilidade de vincar a identidade e cultura organizacional nos ambientes internos e projeta uma imagem aos que estão fora coerente com seus valores e missão.

Sinteticamente poderíamos dizer que a Memória Institucional é a forma como a instituição se vê e se projeta, só que no Tempo (ou seja, através de sua História). Diferente de Imagem e Identidade que estão sempre muito focadas no tempo presente.


A partir de uma Identidade bem vincada, a Memória Institucional se alternará com o Tempo e se modificará a partir de demandas do presente, exigências do futuro e das relações desta instituição com seu meio social, cultural, político, econômico. A gama de todas estas variáveis é dada pelo que chamamos de Cultura Organizacional. Algo profundo que permeia ações, modos de estar e se relacionar.

Mas temos que ter cuidado! Memória Institucional não se resume à memória de guarda documental ou coleção de curiosidades e historias peculiares, ou objetos ditos de museus. Acreditar e praticar isso significa absolutamente não compreender o que seja este trabalho que necessita, e muito, do diálogo interdisciplinar e com práticas metodológicas muito específicas. Não há receitas prontas e usar fórmulas de terceiros não trará o que de fato se espera de todo este trabalho.

Neste sentido, quando falamos em Memória Institucional estamos falando de um conjunto de experiências que, reunidas, dão a dimensão e os contornos da evolução da instituição no tempo e no espaço. Reforço a noção de que a Memória Institucional não pretende ser a reconstituição de algo que não existe mais, mas o seu contrário: pretende ser a Identidade do que o Tempo e a experiência de todos trouxeram à Instituição.
É a História viva que se constitui dia-a-dia.


DESAFIOS

Exposto os pressupostos sobre os quais a Memória Institucional se pauta, entramos no campo dos diferentes desafios que o Projeto Memória Michie Akama oferecia.

Inicialmente o Projeto Memória seria integrado ao Projeto Pedagógico do ano e contaria com o trabalho da Assessoria Técnica integrando alunos e professores.
Tudo corria muito bem, quando no meio do caminho surgiu uma pandemia!

O surgimento da pandemia exatamente quando os trabalhos iriam ser iniciados interrompeu toda e qualquer possibilidade de desenvolver a proposta inicial do Projeto Memória. A escola teve que se adaptar ao ensino remoto e a escola fechou. Os depoimentos que seriam feitos com diferentes personagens em especial os mais idosos tiveram que ser interrompidos. Ou seja, nada num primeiro momento puderam ser iniciados.

Só a partir de algum tempo pudemos iniciar remotamente a coleta de depoimentos que tiveram que ser adequados às plataformas digitais surgidas como o Zoom, Teams, etc.

Com tais alterações, tanto abordagem quanto procedimentos metodológicos e técnicos tiveram que ser repensados e o Projeto Memória tomou uma outra direção. Esta muito mais tecnológica do que imaginávamos à principio e daí o surgimento deste site integrando o site da Fundação Michie Akama. A história do Colégio Pioneiro foi hospedado no que é hoje a Fundação Michie Akama, e mais uma vez a fundadora forneceu hospedagem e meios para que o Projeto de Memória se desse.

É óbvio que um trabalho com todos estes desafios, necessitaria de uma metodologia bem estruturada e robusta para propiciar alcançar todos objetivos que nós dispomos.

Abaixo discrimino algumas decisões metodológicas fundamentais:

METODOLOGIA

A primeira decisão metodológica foi iniciar de forma remota a coleta de depoimentos e ir incluindo as pessoas que tivessem alguma familiaridade com as plataformas digitais ou que tivessem o suporte de filhos e netos para os auxiliar. Deixamos à principio, os professores e demais funcionários do Colégio Pioneiro, pois entendíamos que estavam sobrecarregados em tornar o ensino possível e viável por meios remotos.

Claro está que algumas coisas teriam que ser deixadas, como por exemplo todo o trabalho com os alunos que seria feito via integração com as diferentes disciplinas. Como resultado surgiram os chamados “Votos” dos alunos para o futuro, que acabamos transformando em uma pagina do site. Como o tempo alterou-se completamente optamos por trabalhar com o conceito de amostragem e saímos em busca de contatos possíveis entre ex-alunos, pais de ex-alunos, diretores, familiares da Srª Michie Akama. O objetivo era alcançar um número que fosse representativo da história da instituição.

A experiência que a COVID19 nos trouxe possibilitou sessões de coleta de depoimento que mais se assemelhavam a Rodas de Conversas com personagens que haviam convivido um determinado período juntas. Isto porque a intimidade favoreceria lembranças e trocas. E foi o que de fato ocorreu.
O resultado destas experiências estão registradas com Cirandas de Roda e Rodas de Conversa.
Como o esperado, foram conversas agradáveis, afetuosas e com momentos de muita emoção e gratidão.

Apesar da adequação às plataformas digitais à coleta de depoimentos, não abandonamos de forma alguma métodos e técnicas necessárias aos mesmos. Não tínhamos como objetivo realizar um interrogatório ou uma entrevista. O respeito à Memória e a forma como esta se manifesta foram rigorosamente cumpridos, além de conduzir o depoimento de modo a não sofrer interrupções ou influência de terceiros. Um desafio e tanto, já que em geral, depoimentos devem ser feitos individualmente. Para os que se interessam pelo tema, sugiro a leitura do artigo: “História Oral: o que é? para que serve? como se faz?”.
Para conferir o resultado deste trabalho clique na página Depoimentos. Nela você poderá acessar os depoimentos gravados como audiovisual.
Na página intitulada Escritos e Garatujas você terá acesso aos depoimentos escritos, alguns inclusive composto por desenhos e garatujas dos pequenos que ainda não aprenderam as letras, mas já comunicam seus sentimentos.

Todo este trabalho não parava por aí. Ao mesmo tempo, tinha que lidar com o trabalho de Curadoria de Informação e posteriormente a Curadoria de Conteúdos a partir de toda a documentação levantada e guardada.
Mas foi exatamente o trabalho de Curadora e de Historiadora que me permitiram encontrar uma narrativa que pudesse ser aplicada ao que seria o produto final do trabalho: o Design e Arquitetura de Informação para um site de um Projeto de Memória Institucional.

E assim se deu…


Aqui está o produto final de todo este trabalho, navegue por suas páginas e conheça o Projeto Memória Institucional Michie Akama